No próximo dia 17 de novembro, a partir das 18 horas, o escritor botucatuense Hernani Donato faz o relançamento do romance Selva Trágica. O evento acontece na sede da Academia Paulista de Letras, no Largo do Arouche, em São Paulo. Abrindo o evento, os críticos Nelly Novaes Coelho e Fábio Lucas falarão sobre a vida e a obra do escritor.
Lançado em 1960, o livro foi um sucesso de crítica e os leitores, esgotando em quatro edições. Em 1962 foi filmado em preto e branco e dirigido pelo cineasta Roberto Farias, com a estréia de Reginaldo Farias como ator. Ganhou o prêmio Saci, promovido pelo jornal Estado de São Paulo e representou o Brasil no Festival de Veneza.
O romance tem como tema a exploração humana no campo. O cenário é o sudeste de Mato Grosso. Trata-se da produção de erva-mate, quando os ervais eram dominados por uma Companhia que deles tinha o monopólio.
Os ervateiros trabalham desde as três horas da madrugada até ? tardinha. Transportam, diariamente, um fardo de erva de vinte arrobas, preso ? testa, aos ombros e ao peito. Se tropeçam (não podem olhar para o chão), a morte é instantânea, pois a coluna vertebral se parte. Para mantê-los, indefinidamente, no emprego, a Companhia força-os a gastar o que ganham, prolongando, assim, o contrato dos empregados perdulários (todos o são: descarregam as semanas de tensão sem pensar duas vezes).
São mobilizados nas cidadezinhas da fronteira Brasil-Paraguai, levados, a poder de engodos, promessas e fantasias, ? s bailantas (casas de mulheres e bebidas), forçados a gastar numa noite um dinheiro prometido e inexistente, até que, ao raiar do dia, endividados, assinam compulsoriamente um contrato com a Companhia.
Não há organização dos oprimidos, nem elementos instigadores para os arregimentar. O protesto é a fuga, cada um que se cuide, havendo até quem planeje o sacrifício de um colega para facilitar o escape. Os funcionários da Companhia, que tomam conta dos mineiros, ficam inteiramente brutalizados: batem, espancam, trapaceiam, tudo com indiferença e sadismo.
As festas de fim de colheita coincidem, no livro, com a Semana Santa. São sete dias de orgia, com abundância de mulheres, comidas, jogos e bebidas. As mulheres pertencem a seus maridos até onde o permita a Companhia. Os capatazes podem dispor delas ? vontade. São objetos, que servem até para pagar dívidas. Isso dura até que um fator determinante muda, drasticamente, a situação dos ervateiros.
{n}Um pouco do escritor{/n}
Hernani Donato nasceu em Botucatu no dia 12 de outubro de 1922. É escritor, historiador, jornalista, professor, tradutor e roteirista brasileiro. Ocupa a cadeira nº 1 da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras e, desde 1972, a cadeira nº 20 da Academia Paulista de Letras.
Aos 11 anos, escreveu (a quatro mãos com Francisco Marins) o romance infantil O Tesouro, publicada em capítulos no suplemento literário de um jornal dos Diários Associados.
Em São Paulo, estudou dramaturgia (na Escola de Arte Dramática) e sociologia, curso que abandonou para se aventurar em uma expedição que desbravaria uma antiga trilha indígena até o Paraguai (chamada Peabiru).
Foi presidente, em duas gestões sucessivas, do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. Foi membro da Academia Paulista de História, sócio-correspondente do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba e do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais.
Colaborou com várias revistas entre elas, a Veja e jornais, e atuou na TV Tupi, TV Record, Nacional (antecessora da TV Globo). Foi funcionário público municipal e federal. Participou da comissão organizadora dos festejos do IV Centenário da cidade de São Paulo (1954) e de outros programas culturais.
Escreveu várias biografias e livros infantis como Histórias da Floresta; Apuros do Macaco Pium; Façanha do João Sabido; Novas Travessuras de Pedro Malasartes e Histórias dos Meninos Índios. Na esfera juvenil assinou obras como o Tesouro, em folhetim; A Maravilhosa História dos Presentes de Natal; A Palavra Escrita e Sua História; História do Calendário e Longa História dos Transportes.
Também é autor de contos como: Contos Muito Humanos; Grandes Amores da História e da Lenda e Babel. Como romancista tem no currículo os livros: Filhos do Destino; Chão Bruto (adaptado para o cinema em 1958 e 1976, ambas dirigidas por Dionísio Azevedo); Selva Trágica (adaptado para o cinema); O Rio do Tempo romance do Aleijadinho e Núpcias com a Morte (publicado no jornal Última Hora).
Donato tem, ainda, uma gama de obras ligadas a história e que são muito procuradas para realização de pesquisa, como: Achegas para a História de Botucatu; Peabiru; Paulistas nas Guerras do Sul; Provérbios Rurais Paulistas; Dicionário das Batalhas Brasileiras e A Revolução de 1932.
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